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Painel em Davos aborda desperdício na cadeia alimentar

Davos (Suíça), 26 jan (EFE) – Cerca de 40% dos alimentos produzidos no mundo se perdem em algum elo da cadeia entre a colheita e o consumidor final pela falta de infraestrutura que garanta boas condições de armazenamento, transporte e distribuição nos países em desenvolvimento.

O assunto foi abordado nesta quinta-feira em um painel de especialistas no Fórum Econômico Mundial de Davos moderado pela diretora do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Josette Sheeran.

Na reunião ficaram claras as fortes contradições que prevalecem no setor agrícola e fazem com que, apesar de a produção alimentar ser suficiente para toda a população mundial, 1 bilhão de pessoas não tenham como pagar ou simplesmente não tenham acesso a comida.

Mesmo assim, quatro de cada dez toneladas são desperdiçadas. Sheeran detalhou que do total de 1 bilhão de pessoas nas estatísticas de insegurança alimentar no mundo, 200 milhões estão raquíticas.

Diante da previsão de a população mundial alcançar os 9 bilhões de habitantes em 2050, o executivo-chefe da multinacional de alimentos Unilever, Paul Polman, declarou que será necessário elevar a produção em 70% para atender a demanda.

Isso implicará em riscos pela expansão das emissões de dióxido de carbono e do consumo de água. Nessa mesma linha, advertiu que os analistas preveem que a mudança climática será responsável pela redução de 20% a 40% do rendimento agrícola até meados deste século.

Para a ministra das Finanças da Nigéria, Ngozi Okonjo-Iweala, se os governantes não fizerem esforços para resolver ‘a questão crítica’ da insegurança alimentar não será possível alcançar progressos em outras áreas, como educação e saúde, e persistirá a instabilidade nos países afetados.

‘África é capaz de alimentar-se por sozinha, mas precisa de mudança de estratégia. A produção não deve ser tão concentrada, apenas focada na transformação de toda a cadeia de valor’.

Essa transformação permitiria ‘tornar mais rentável a etapa posterior à colheita, ou seja, a do transporte, do armazenamento, do processamento e da distribuição’, nas quais grande parte da produção é desperdiçada.

Para demonstrar que a produção de alimentos não é um problema real, a ministra lembrou que 50% das terras cultiváveis na África ainda estão disponíveis.

O bilionário Bill Gates, que participou do debate e cuja fundação filantrópica é focada em atividades relacionadas à saúde, disse que a má nutrição é um fator crucial na mortalidade infantil atribuída a malária e a pneumonia.

Ele lamentou o descumprimento das promessas feitas em 2008 devido à crise financeira e econômica. Naquele ano, vários países sofreram uma grave crise alimentar por causa dos altos preços dos alimentos básicos.

Já o diretor-geral do Fundo da ONU para a Agricultura e a Alimentação (FAO), o brasileiro José Graziano da Silva, coincidiu com a ministra nigeriana ao assinalar que ‘podemos alimentar toda a população, o problema não é de abastecimento, mas o fato de as pessoas não terem meios para comprar comida’.

Ele reconheceu que até o meio deste século será necessário elevar fortemente a produção agrícola para atender à demanda mundial e sustentou que ‘o grande desafio será fazê-lo sem destruir os recursos naturais, sem provocar mais erosão dos solos e o desmatamento, e preservando os recursos hídricos’.

Por sua vez, o executivo-chefe da seguradora suíça Swiss Re, Stefan Lippe, ressaltou que para garantir a segurança alimentar é preciso dar ‘segurança ao agricultor’, equiparando-o este último a ‘um empresário que está exposto a diferentes riscos, como os fenômenos climáticos extremos’.

‘Se há uma seca não há colheita e não existe receita, o agricultor deixa o campo, emigra para as cidades e deixa suas terras improdutivas’, disse o executivo.

Para que isso seja possível, acrescentou, é preciso dar ao produtor ‘acesso a ferramentas financeiras, como crédito, seguros e mecanismos para receber investimentos, inclusive subsídios públicos se for necessário’. EFE

FONTE: veja